O primeiro que salta à vista , quando observamos as cerâmicas de Mário Thaddeu, é a estreita relação que elas têm com o mundo orgânico . Em rigor de verdade , formam um universo próprio , simultaneamente flora e fauna , cujas criaturas compartilham corpos globulosos, tanto de sementes como de bulbos , carregando carapaças de coleópteros ou de frutos cascudos . Seres com aspecto de escaravelhos , besouros , conchas ou caracóis, devido a suas peles escamadas, mas também por possuir pseudópodes rugosos , estames e pistilos , anteras carregadas de pólen , desmesuradas brânquias , corolas tubulares , filamentos lanceolados, antênulas, ogivas espinhosas, e tantos outros apêndices destinados aos movimentos , sejam estes de locomoção , ataque ou defesa . As peças , em conjunto , parecem ser mutantes vindos de uma galáxia paralela , mas que aqui se fincaram, embora sempre olhando na direção das estrelas , cegadas pela luz .
Da mesma forma , a estética de Mário se relaciona estreitamente com a de Antoni Gaudí, o célebre criador catalã da segunda metade do século XIX e começos do XX, que tem desenvolvido uma desconcertante obra (o Parque Guell, a casa Batlló, a casa Milà, e a Sagrada Família , entre outras), dando uma personalidade única à cidade de Barcelona. As primeiras obras de Gaudí possuem claras influências da arquitetura gótica e catalã tradicionais, embora também tenham recebido o influxo do arquiteto francês Eugene Viollet-le-Duc. Mas posteriormente Gaudí desenvolveu uma linguagem expressiva própria, de corte modernista (que é uma variante local do art nouveau), o que o levou a abordar um polimorfismo fantástico, quase alucinatório. As cerâmicas de Mário Thaddeu se aproximam livremente de esse conglomerado estrutural e estilístico, e o recria a través de um intenso barroquismo, tipicamente latino-americano (já meticulosamente detalhado pelo ensaísta Eugenio d’Ors), exacerbadamente brasileiro. Mario não realiza uma operação de abstração partindo do nada fantasmagórico, senão que exerce diversos graus de estilização a partir da própria natureza, observada e constelada como um espetáculo fenomênico de vastas proporções e constantes derivadas fisioplásticas.
No nível formal constitutivo-estrutural, Gaudí usava as suas famosas “cúpulas catenárias”, às que Mário responde de forma inteligente , contrapondo um ascendente movimento espiralado em constante rotação , em permanente mutação . Aos arcos parabólicos de inspiração gótica de Gaudí, Mario reage com suas ousadas abóbadas assimétricas, cujos eixos de translação geram redemoinhos , embora permanecendo em perfeito equilíbrio dinâmico .
Prof Nestor Candi – Porto Alegre (RS) - 1º de Agosto de 2010.-
parabens, grande talento!!!
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